Há algum tempo, andando com meu esposo por uma dessas galerias de lojas que há em Montes Claros, deparamos com uma situação engraçada, para não dizer fora do comum – pelo menos para mim: era uma criança conduzida pela mãe como se fosse um cachorrinho. Ainda que considere a capacidade inventiva dos elaboradores dos produtos que aparecem no mercado hoje em dia, sempre surge algum que me surpreende. E a criatividade da vez foi a bolsinha de rabinho. Explico: trata-se de uma mochila minúscula com aparência de um urso, de um cachorro ou mesmo de uma pequena bolsa, que possui uma corda que se assemelha a um rabo de animal. De fácil uso, o apetrecho pode ser colocado no dorso da criança enquanto alguém segura a cordinha. A criança fica presa à mochilinha como um cachorrinho a uma coleira. Quanto maior a liberdade que se quer dar, mais se solta a corda.
No caso que vimos, a criança parecia se sentir livre e feliz! Ela podia andar vários metros na circunferência em que estavam os pais. Isso dependia da quantidade de “corda recebida”. A pequena rodava, brincava, sentava no chão, ia até o limite dado e, quando não podia seguir, ia para o outro lado. Embora achando curiosa a situação, pensamos até que seria útil para quando tivéssemos o nosso bebê.
Tempos depois voltamos a falar do assunto quando discutíamos acerca dos limites impostos pela norma. A liberdade que o ser humano pensa ter é limitada e isso independe do lugar em que esteja. As normas restringem o alvedrio do homem e ao mesmo tempo o faz sentir-se livre e feliz! Os mais iludidos com o “poder fazer o que quiser” são os cidadãos dos Estados Democráticos de Direito. Acham que podem escolher seus representantes, que podem ir e vir, que têm liberdade de expressão e por aí vai. E dessa crença nasce o preconceito aos outros que não vivem em democracias, que estão submissos a regimes teocráticos ou fortemente ligados à religião.
É verdade que o diferente, muitas vezes, parece absurdo. Também é fato, que a norma quando apresentada com o rosto de proposta e não de imposta se torna natural rapidamente. Pensar o quanto sou livre e o quanto falta autonomia ao outro depende da maneira como a norma foi apresentada. A diferença ou a divergência que preexistira à criação da norma e que a deu origem deixa de ter sentido. Não há como viver em sociedade sem que haja algum desacordo que mereça e careça de uma regra para ajustar a desavença. [1]
Dessa forma, onde há convívio social há normas e, portanto, controle. E se há controle, há, obviamente, limite de liberdade. Eu só vou aonde o ente normalizador quer que eu vá. Assim como só faço o que está previsto. Se o fizer diferente a norma aparece para me mostrar o deslize e que sanções me serão impostas em caso de desobediência. A bolsinha de rabinho está para todos.