domingo, 3 de abril de 2011

Monografia – Parte II: o Projeto

            Os problemas apresentados na matéria anterior precisam de atenção especial no decurso da confecção do projeto de pesquisa bem como na escrita da monografia. Hoje, o tema é a elaboração do projeto. É necessário, mais uma vez, esclarecer que estas são apenas dicas para a composição do trabalho. Para aprofundar o estudo, serão disponibilizadas referências bibliográficas nas notas finais.
            Em primeiro lugar é imprescindível a participação das aulas de Metodologia Científica! Parece óbvia demais esta afirmação. No entanto, não é raro que estudantes com dificuldades para usar as normas que regem a produção acadêmica deixem de lado essas aulas.  Existem muitas obras que tratam da normatização – além de ver todas as aulas de Metodologia, é bom ter algum manual por perto.
Se possuir dificuldades para escrever, não tente dificultar seu trabalho com termos difíceis. Seja objetivo! O projeto não precisa ter trinta páginas. Cinco páginas, nem pensar! Quinze páginas, incluindo a bibliografia, é um bom tamanho. Diferente disso, o seu orientador dirá o tamanho adequado do trabalho. Então, mãos à obra!
            Basicamente, o projeto de pesquisa (e aqui se pensa a elaboração do trabalho para o curso de História, principalmente) precisar possuir:
- Título
- Introdução
- Delimitação do tema
- Justificativa e Relevância
- Objetivos
- Quadro Teórico
- Fontes e Metodologia
- Cronograma
- Bibliografia
O TÍTULO deve ser claro e objetivo. Só “floreie” se o seu orientador permitir. Cuidado com títulos que falem mais que o trabalho, que abarque situações mais amplas que a pesquisa pode oferecer.
Na INTRODUÇÃO, exponha o contexto histórico do seu projeto de pesquisa – da monografia. Apresente, de maneira geral, o período (séculos ou décadas, por exemplo) do seu trabalho e, gradualmente, comece a falar do seu objeto. De acordo com Barros, nesta parte,

deverá ser mencionado – de modo ainda não aprofundado – o Tema com suas especificações mais fundamentais (incluindo recorte temático e espacial), as fontes principais, alguns indicações metodológicas e teóricas, e também um ou outro aspecto associado à justificativa ou viabilidade da Pesquisa.[1]

O item DELIMITAÇÃO DO TEMA compreende a proposta direta de sua pesquisa. Há que se ter muito cuidado no desenvolvimento deste tópico. Umberto Eco adverte os iniciantes da pesquisa a não escreverem sobre temas amplos demais.[2] Quando o recorte é mais limitado no tempo e no espaço, torna-se menos complexo falar mais sobre o tema. Neste tópico, responde-se a pergunta “o que fazer” e estabelece-se, desta maneira, o problema.[3]
No tópico JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA, deve-se responder a questão relacionada ao porquê de fazer um projeto com aquele tema. É fundamental que seja indicada a facilidade do acesso às fontes e à bibliografia. Também é interessante fazer menção a interdisciplinaridade: que outras ciências irão ajudá-lo, de maneira geral, na produção do trabalho? Além disso, qual a importância do desenvolvimento desse trabalho para a História?
Os OBJETIVOS devem ser divididos em geral e específicos. Neste caso, use sempre o verbo no infinitivo e enumere os seus objetivos. Por exemplo, um objetivo geral, de um trabalho que já desenvolvi: Compreender a organização dos elementos que compunham o projeto político e institucional da Igreja Ocidental, notadamente, no que diz respeito à concepção dos princípios papais de governo na visão de Gregório VII, presentes no seu discurso como instrumentos de legitimação do seu poder.
Segundo Barros, a pergunta a ser respondida no item “objetivos” é “para que fazer?” aquela pesquisa.[4] Talvez seja esta a parte mais fácil e simples do projeto.
No QUADRO TEÓRICO deverão ser expostos alguns conceitos relevantes para o trabalho. Isso vai depender de cada tema estudado. Esses conceitos mostrarão sob que ótica o tema está sendo estudado. É a partir do quadro teórico que serão apresentadas diferentes perspectivas de outros autores sobre conceitos mais gerais relacionados ao tema. Exemplos de conceitos a serem apresentados: Poder, Política, Religião, Regionalismo, ou ainda, Cultura, Identidades, Representações, etc. Muitas vezes, em um trabalho de graduação, alguns orientadores são menos rigorosos com essa parte conceitual, por se tratar, a monografia, de um trabalho de menor complexidade. Dessa forma, o conselho é que converse muito com o seu orientador sobre isso.
Mais uma vez, recorrendo às perguntas de Barros,[5] o item FONTES E METODOLOGIAS responde a três questões básicas: a) Com que materiais? b) Com que instrumentos? c) De que modo fazer?
Esta fase é importante porque remete a um problema fundamental da monografia: às fontes que darão suporte ao desenvolvimento do trabalho e à maneira por meio da qual se fará a leitura das ditas fontes. Que documentos serão analisados? Qual é a data deles? Onde estão disponíveis? É de fácil acesso? De que maneira os documentos serão apreciados? A resposta a esta última pergunta deverá ressaltar os métodos de análise dos documentos. Todos esses questionamentos deverão ser respondidos nesse tópico.
            Tenha muito cuidado ao ler um documento! Procure ler suas entrelinhas! Entenda o contexto histórico em que foi construído e quais as possíveis intenções de quem o produziu naquela época! Seja crítico na análise das fontes. Marc Bloch lembra que as provas documentais são frágeis e podem induzir à mentira e ao erro.[6]
No item CRONOGRAMA, fique atento às datas exigidas pela sua instituição. Nesse sentido, faça uma programação particular de leituras e escrita para que termine o trabalho e o apresente pelo menos três meses antes de sua formatura.
Segue um exemplo pessoal de cronograma:
1. Verificação da disponibilidade da bibliografia
2. Leitura e análise da bibliografia
3. Verificação das fontes
4. Análise e confronto das fontes
5. Confronto entre bibliografia e fontes
6. Elaboração da Monografia
7. Apresentação do trabalho
  2011 –2012
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BIBLIOGRAFIA: as referências dentro das normas técnicas às fontes e aos livros que foram utilizados no projeto e, pelo menos, parte dos que serão utilizados no trabalho deverão aparecer neste tópico. Para isso, consulte um manual de normas técnicas. Pode ser que seu professor de Metodologia Científica, ou mesmo seu orientador, possua um. Ao contrário, na biblioteca deve haver.
Além dos livros citados nas notas abaixo, outros poderão ajudar na elaboração da monografia do curso de história:
BARROS, José D’Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004
BASTOS, Dau. Monografia ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 13 – 28.
Boa sorte!
Até mais!


[1] BARROS, José D’Assunção. O projeto de pequisa em História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 24.
[2] ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2005. p. 8
[3] BARROS, José D’Assunção. O projeto de pequisa em História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 20.
[4] BARROS, José D’Assunção. O projeto de pequisa em História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 20.
[5] BARROS, José D’Assunção. O projeto de pequisa em História. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 20.
[6] BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da História, ou, O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p. 89 – 96.