domingo, 20 de março de 2011

A TORTURA DA MONOGRAFIA


Embora seja retórico afirmar que um dos grandes problemas enfrentados por acadêmicos de diversos cursos superiores é a confecção da monografia, esse assunto, justamente por essa razão, precisa estar em contínua discussão. Sendo assim, objetiva-se trabalhar de maneira concisa alguns pontos que, talvez, possam ajudar aqueles estudantes que não conseguem fazer o trabalho de conclusão de curso.
            Para tanto, a identificação dos motivos do insucesso de muitos estudantes no processo de composição do trabalho faz-se necessária. Seguem os pontos abaixo:

PROBLEMA I: A falta de inspiração.
Em primeiro lugar, pode ser citada uma das razões decorrente da afirmação de vários estudantes: “Eu não consigo escrever! Quando estou à frente do computador não tenho inspiração. Fico semanas sem saber como começar a minha monografia!”
            Achar que a monografia é inspiração divina é um problema! Os mais religiosos sabem que ninguém ganha o peixe pescado e assado, mas sim a rede de pesca. Deus não vai ditar, por intermédio do Espírito Santo, o texto para que seja digitado! Acha falar sobre isso um absurdo? Pergunte a dez acadêmicos e pelo menos um vai confirmar ter feito uma novena ou feito alguma penitência para conseguir fazer a monografia! Nada contra orações. O problema é que os prazos para entregar a monografia pronta não esperam. Reze, mas trabalhe duro! Afinal, Deus ajuda quem trabalha. Não é essa a exortação?
SOLUÇÃO I: Leia. Leia muito.

PROBLEMA II: Não ler.
            Talvez a falta de dedicação às leituras seja o maior de todos os problemas de quem quer fazer uma boa monografia. Não há o que escrever se antes livros e mais livros não tiverem sido devorados, ruminados, digeridos, entendidos a fundo. Aqui reside uma das maiores inspirações do acadêmico-pesquisador: a leitura. O problema é que os que apresentam as maiores dificuldades para fazer o trabalho não gostam de ler. E neste caso, os obstáculos advêm da falta de leitura, são consequencias disso. Dessa forma, não há como fugir dos livros.
SOLUÇÃO II: Visite a biblioteca, compre livros ou peça-os emprestados, e leia muito. Compre um caderninho de anotações. Faça pequenos resumos, copie e coloque entre aspas citações importantes e anote as referências da obra, para o caso de precisar citá-la posteriormente no seu trabalho. Leia e anote o que puder. Guarde o caderno de anotações como um tesouro: a utilidade dele é enorme! Agora ,se não gosta de ler, faça um curso técnico que exija pouca leitura. A academia exige que se leia muito!

PROBLEMA III: Não saber bem o que é uma monografia e ignorar que se trata do resultado de uma pesquisa.
            Não é outro absurdo: muitos alunos não sabem o que é uma monografia. Principalmente acadêmicos dos programas de educação à distância sofrem com esse problema. Só de ouvir falar que terão que fazer esse trabalho, muitos estudantes têm pesadelos. A “propaganda” que a monografia é um monstro devorador de estudantes universitários tortura muitos deles.
            Nesse caso, sem delongas, a conversa com professores de maneira aberta pode ajudar. Enquanto isso não acontece, talvez esta definição ajude: grosso modo, a monografia é um trabalho que inicia o acadêmico na pesquisa – daí o nome de iniciação científica. Normalmente, o aluno não faz o trabalho sozinho, há um professor que o orienta. Como não se trata de um trabalho comum, a monografia exige um projeto de pesquisa que é como um esqueleto do trabalho. É a partir do projeto e das propostas ali apresentadas que o trabalho será realizado.
No projeto, apresenta-se o assunto e justifica-se a relevância do seu estudo, dá-se a direção das leituras e dos objetivos a serem alcançados pela pesquisa, bem como se estabelecem prazos para realização e conclusão do trabalho. Por falar em pesquisa, é isto, sobretudo, que é uma monografia: a apresentação, por meio de um trabalho escrito, a conclusão de uma pesquisa.
SOLUÇÃO III: Possui dúvidas? Pergunte, pesquise, busque na internet o significado das coisas. Abuse da facilidade dos meios de comunicação para se manter informado. E, sobretudo, converse com seus professores. Eles lhe dirão o melhor caminho a seguir. Afinal, por isso e para isso é que são educadores, mestres, orientadores.

PROBLEMA IV: A fonte
             A verificação das fontes que serão base da pesquisa monográfica é outra das maiores inspirações do acadêmico. É da fonte que brota a pesquisa. São as fontes que mostram o caminho a seguir. É para as fontes que A PERGUNTA será feita e são elas que responderão à problematização do projeto. As fontes também darão o norte sobre que tipo de bibliografia deverá ser lida. Esse também é um grande obstáculo do acadêmico: a maneira de lidar com as fontes.
Muitas vezes, não se sabe nem a que fonte recorrer: se a arquivos particulares, se a arquivos oficiais, se a dados estatísticos, a fotos, a obras de arte, etc. Cada tipo de fonte exige um tratamento especial. Nesse caso, o desconhecimento do trabalho com as fontes pode dar ensejo a outro grande problema: não saber sobre o que se vai escrever.
SOLUÇÃO IV: Além de ler outras monografias, bem como obras que tratem sobre a confecção desse tipo de trabalho, vale conversar com seus professores sobre isso. Outra importante sugestão, talvez, ainda melhor: é a visita a arquivos públicos – esta, especialmente, para estudantes de história.  Nesses lugares, há inúmeras possibilidades de pesquisas proporcionadas pelos documentos ali guardados. A partir desses documentos, muitas luzes sobre o que será pesquisado e escrito surgirão no fim do túnel. Assim, além de se familiarizar com a leitura dos documentos, muitas ideias surgirão desse conhecimento. Só para dar uma pista, esses arquivos públicos podem ser encontrados em prefeituras municipais, câmaras de vereadores, universidades, etc.
            Em tempo, uma advertência: cuidado com a leitura dos documentos! Eles podem ser traiçoeiros! Há que se aprender a ler as entrelinhas, o contexto e o lugar em que foram produzidos, bem como apreender a intenção de quem os produziu, para se aproximar dos fatos. Dessa forma, novamente a exortação de ler outras boas monografias é lembrada.
            Outro ponto importante sobre trabalhar com as fontes é a questão da disponibilidade dos documentos-fontes. Antes que se proponha a trabalhar com esse ou aquele tema é essencial saber as fontes estão disponíveis. Se forem fontes publicadas, é importante saber a confiabilidade de quem as transcreveu e/ou as traduziu. Há que se observar se há viabilidade financeira para a realização do trabalho. Não adianta querer escrever sobre algo que se encontra no Museu do Ipiranga sem ter condições financeiras reais para ir lá pesquisar, a não ser que haja fontes publicadas confiáveis sobre o assunto. Mais uma vez a importância da confecção do projeto que ajudará a mostrar se a pesquisa é viável. A ajuda do professor orientador é fundamental para se estabelecer o que é viável para o prosseguimento do trabalho.

PROBLEMA V: Não conhecer bem a Língua Portuguesa e ter dificuldades de interpretação de texto
            Não é raro encontrar um estudante universitário que não saiba ler e escrever. Não se faz aqui referência às leituras e escritas básicas somente. A dificuldade para compreender e interpretar o que se está lendo e de escrever de maneira inteligível é também um grande obstáculo do acadêmico na hora de fazer a monografia. Esse é um problema real, basta fazer uma breve pesquisa com trabalhos curtos escritos por universitários. Os erros de gramática, de coerência e concisão e, principalmente, de interpretação são medonhos. O problema é que, muitas vezes, pensa-se que não é necessário conhecer a fundo a Língua Portuguesa para fazer um curso de matemática, de história ou de geografia ou mesmo de direito. Grande equívoco! Não há como parar de estudar a Língua Portuguesa se se quer comunicar bem por meio dela.
SOLUÇÃO V: Faça um bom curso de Português pelo menos a cada dois anos.  Faça um curso completo incluindo a parte de interpretação de textos, estilística e tudo o que estiver relacionado a esse assunto. Isso é urgente e fundamental! Independente de qual curso esteja fazendo: estude a Língua Portuguesa e leia muito! A leitura vai ajudá-lo no desenvolvimento das ideias e na ampliação do vocabulário que vai usar na escrita.

PROBLEMA VI: Ignorar a aula de Metodologia Científica
            Um problema que não deveria existir, mas existe é a pouca importância que muitos acadêmicos dão para as aulas de Metodologia Científica. É nessa aula que irão encontrar boa parte das ferramentas para trabalhar a monografia. Normalmente, o professor dessa disciplina apresenta as características dos trabalhos acadêmicos e os moldes a partir dos quais eles serão escritos. As normas de uso de outras obras, as citações, as referências a outros autores de maneira geral devem ser respeitadas. Confeccionar um trabalho acadêmico dentro das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) fica bem mais fácil depois de uma boa aula de Metodologia Científica.
SOLUÇÃO VI: Óbvia: assista a todas as aulas e estude. Afinal, a postura acadêmica exige que, no mínimo, o aluno assista às aulas. Todas as disciplinas do currículo do curso são todas importantes, é por isso que estão lá.

PROBLEMA VII: Desinteresse por disciplinas teóricas
            Um grande problema na hora de entender questões relacionadas a conceitos e a teorias diversas é o desinteresse de muitos alunos por disciplinas como Filosofia, Sociologia e Antropologia, independente do curso que estejam fazendo. Além de objetivar dar uma formação mais humana aos acadêmicos, essas disciplinas oferecem a possibilidade do entendimento de conceitos relevantes na confecção do trabalho acadêmico. Não adianta coletar dados nas fontes se no momento de confrontá-los à bibliografia pertinente não se compreende diversos termos teóricos usados pelos autores. Dessa forma, uma boa base conceitual de Filosofia, Sociologia e Antropologia pode não resolver todo o problema do conhecimento teórico, mas facilitará a compreensão de muitos preceitos, de uma maneira geral.
SOLUÇÃO VII: Repete-se a solução VI - Óbvia: assista a todas as aulas e estude. Afinal, a postura acadêmica exige que, no mínimo, o aluno assista às aulas. Todas as disciplinas do currículo do curso são todas importantes, é por isso que estão lá.

PROBLEMA VIII: Estudar só para passar
            Ainda existe isso! Muitos alunos estudam somente às vésperas das provas para passar. A falta de postura acadêmica, a falta de vontade de saber simplesmente pelo conhecimento traz esse grande obstáculo. O acadêmico que estuda só para passar de período terá dificuldades, naturalmente, na hora de fazer sua monografia. Ele deixa de aproveitar a maior parte do que as disciplinas oferecem e que possibilitará a escrita de um bom trabalho.
SOLUÇÃO VIII: Não perca tempo! Aproveite tudo o que lhe for oferecido de conhecimento! Só assim aprenderá a descartar as informações que não são importantes. A solução VI continua valendo para esse problema.

PROBLEMA IX: O plágio
             Este também é um grande problema que pode atrapalhar a vida toda de um profissional. A facilidade de achar muitos textos pela internet leva muitos alunos a copiar monografias e trechos de textos sem fazer referência ao autor. Além de ser uma prática desonesta e feia (ridícula!) é ilegal. O plágio é um crime previsto em lei. Para conhecer melhor sobre a legislação acerca dos direitos autorais, consulte a internet: trata-se da Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.  Sendo assim, da próxima vez em que pensar em copiar o trabalho alheio, pense que além de ficar desmoralizado academicamente, poderá responder na justiça pelo crime de plágio.
SOLUÇÃO IX: Além de respeitar os direitos autorais, aprenda com a disciplina de Metodologia científica a fazer referência a outras obras e autores, sempre resguardando o seu direito de autoria, fazendo o uso correto das normas da ABNT.

PROBLEMA X: Desconhecimento de uma língua estrangeira
            Muitos temas estudados pelos acadêmicos exigem a leitura de obras produzidas em outras línguas. Seus trabalhos acadêmicos ficariam muito mais interessantes e mais completos se os alunos pudessem ler em inglês, em francês, em espanhol ou em outros idiomas. A falta de estudo de outras línguas ainda é um grande problema entre os estudantes universitários.
SOLUÇÃO X: Óbvia: mexa-se! Faça pelo menos um curso de inglês! Há cursos para todos os gostos e bolsos. Não importa a metodologia de ensino do curso, o importante é aprender pelo menos mais uma língua.

Mesmo superando todos esses problemas o nascimento da monografia continua sendo doloroso como um parto. Pensando nas dificuldades enfrentadas pelos estudantes universitários quando vão fazer o seu trabalho de conclusão de curso, será feita uma série de matérias que terão como escopo auxiliá-los na da sua monografia. Há que se ressaltar que os textos serão bem objetivos e servirão apenas como guia na produção do trabalho. A dedicação do acadêmico é a principal chave para a confecção de um bom texto. As soluções propostas acima são sugestões, mas também são princípios básicos para a conclusão da monografia com sucesso.

Até semana que vem.

Por Magda Rita R. de A. Duarte

quarta-feira, 9 de março de 2011

REFLEXÃO ABREVIADA SOBRE A CONCEPÇÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA: HOBSBAWM EXPLICA

            O objetivo deste pequeno texto é apenas fazer uma breve colocação sobre a importância de Marx para a História. Faz-se necessário esclarecer que a visão que é aqui apresentada é consideravelmente resumida, dada a proporção da relevância do tema para estudos diversos. Não se objetiva, portanto, fazer um confronto entre autores sobre as teorias preconizadas por Karl Marx, mas sim apresentar, de maneira sintética, alguns conceitos encontrados na sua obra e que são relevantes para a produção historiográfica e que foram destacados por um historiador marxista.
Feitas as devidas considerações iniciais, voltem-se as atenções para o “Mestre e inspiração” do Historiador: é assim que Hobsbawm designa o papel de Karl Marx para a História. “O Capital” foi tão importante que é difícil encontrar outra grande obra depois dele para comparar! Embora Marx tenha escrito pouco de História, propriamente, ele influenciou até mesmo alguns autores da Escola Francesa que sempre se mostrou cheia de valores nacionalistas.
            Então em que implicaria a relevância da obra de Karl Marx para a produção historiográfica? Hobsbawm responde objetivamente: o método. Esta é a grande dívida que o historiador possui para com Marx: a maneira de perguntar, o método de produzir história. Apesar de não escrever História, Marx justapunha seu método a problematizações concretas e influenciou as produções historiográficas por meio de sua teoria geral da concepção materialista da História.
Grosso modo, esse conceito se desenvolveu quando Marx e Engels criticavam a ideologia e filosofia alemãs. Nesse sentido, a crítica voltava-se contrariamente à “crença de que ideias, pensamentos e conceitos produzem, determinam e dominam os homens, suas condições materiais e sua vida real”[2]. Se se fosse reduzir a uma frase a concepção materialista da História seria assim, segundo Hobsbawm repetida de diversas maneiras: “não é a consciência que determina a vida, mas A VIDA QUE DETERMINA A CONSCIÊNCIA”[3].
            Sendo assim, convém pontuar sobre a concepção materialista da História:
1.      Fundamenta-se no processo concreto de produção;
2.      Abrange relações associadas a esse processo e instituídas por esse modo de produção;
3.      “É o conjunto complexo de relações mutuamente dependentes entre natureza, trabalho, trabalho social e organização social”;[4]
4.      Constitui o fundamento da elucidação da História.
Dessa maneira para compreender o Materialismo é preciso entender que, sob essa perspectiva, para analisar uma determinada sociedade, deve-se levar em conta o seu modo de produção dentro de seu desenvolvimento histórico. É necessário abranger as relações entre homem e natureza e como esta é modificada a partir do trabalho humano, bem como perceber a maneira como a sociedade mobiliza, difunde e dispõe o trabalho.
Por último, é importante ressaltar o conceito de modo de produção para completar esta breve reflexão: um “agregado das relações produtivas que constituem a estrutura econômica de uma sociedade e formam o modo de produção dos meios materiais de existência”[5].
Há muito que se estudar sobre o guia da História – a concepção materialista – segundo Hobsbawm. Desde as teorias sobre as relações de produção, as classes sociais, entre outras, compreender Marx não é uma empreitada que se faz em um livro, muito menos em duas páginas. Mas abarcar tudo sobre Marx não foi o objetivo dessas linhas, e isso já foi dito no início.



[1] HOBSBAWM, Eric. Marx e a História. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
[2] HOBSBAWM, Eric. Marx e a História. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 174.
[3] HOBSBAWM, Eric. Marx e a História. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 174.
[4] HOBSBAWM, Eric. Marx e a História. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 175.
[5] HOBSBAWM, Eric. Marx e a História. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 179.